19.2.06

A casa é simples mas a gente somos trabalhador


Há alguns anos eu descobri a música caipira brasileira, comprei uma viola e comecei a aprender a tocar umas modas e ponteios. Encontrei mais material a respeito do instrumento e da música de raiz em geral do que eu esperava, então criei um site pra dividir estas informações. Minha intenção com o Viola Elétrica era colocar mensalmente textos sobre música caipira, resenhas de CDs, publicações e equipamentos e, principalmente, transcrições de músicas. O único problema é que, pra manter o site interessante e atualizado, eu tinha muito trabalho e, como o tempo era curto, fiquei um tempão sem adicionar conteúdo a ele.
Mas, a vontade de falar sobre música é grande e o blog me parece um meio mais rápido e informal pra manter as coisas em andamento.
Então, a partir de agora, textos sobre música caipira (de raiz ou feita por grupos contemporâneos), viola, e minhas composições vão ser colocados aqui.

Publiquei este texto no VIOLA ELÉTRICA em dezembro de 2004. Pra quem tá chegando agora, é uma boa introdução ao que vai aparecer aqui no blog:

A Viola e Eu
Em 2001, eu estava cansado da música que vinha ouvindo, passei a procurar novos sons e encontrei a música caipira brasileira.
O engraçado é que eu não tinha motivo algum pra gostar de música caipira. Não nasci e nem tenho parentes no campo. Meu contato com a música caipira até dois anos atrás era praticamente nenhum e moro em uma cidade industrializada e claustrofóbica (São Paulo, a selva cinzenta), ou seja, sou alguém "sem raiz" no meio caipira. Mas tudo o que eu procurava estava lá: a emoção e a simplicidade, a autenticidade que só tem o que é verdadeiro.
Aí me veio um estalo que me levou em outra direção: Os americanos sempre souberam misturar música antiga, "de raiz", com vertentes mais modernas, tocando a história da música pra frente. E no Brasil? Seria possível que a música tradicional brasileira só tenha evoluído para o pop radiofônico de zezés e daniels? Será que ninguém teve a idéia de juntar música caipira e rock?
A idéia era tão boa que provavelmente alguém já tinha pensado nisso. Fui atrás e encontrei um mundo de gente com um pé na tradição e outro em linguagens musicais contemporâneas, universais. Em julho de 2002, fiquei sabendo que o Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, promoveria um Sarau Paulista de Viola, com diversos grupos tradicionais e outros que usavam a música caipira dentro de uma abordagem contemporânea.
O evento, que durou o mês inteiro, encheu meus ouvidos de coisa boa. Violeiros como Vinicius Alves, Ivan Vilela e Pereira da Viola e bandas como Matuto Moderno e Fulanos de Tal me mostraram que algo muito singular estava acontecendo ali. Apesar da intenção de fazer música nova, não se queria romper com o passado; o respeito pela tradição era enorme.
Com o tempo, vi que esse pessoal se enxerga como parte de uma coisa só. Existe até um embasamento teórico e uma inteção de se passar para a mídia e o público a idéia de que há um "movimento", mas eu percebi que, se o tal existe, é porque bandas e violeiros estão constantemente trocando informações, promovendo-se mutuamente e participando de eventos e festivais pelo país, de forma eminentemente independente, sem apoio - e grana - de gente graúda.
A partir daí, fui atrás de bandas, CDs, livros, eventos e comprei uma viola caipira a fim de entender essa música que é velha e nova e toca o coração de tanta gente. Aí veio a idéia de colocar o Viola Elétrica no ar.
A cultura e a música caipira estão vivas e se adaptando aos novos tempos. Procuro reunir as informações que vou encontrando pelo caminho e quem sabe até fornecer um mapa para quem quiser saber mais sobre o assunto. Além disso, são raras as transcrições para viola caipira na Internet, daí a necessidade de se disponibilizar tablaturas e partituras aos novos violeiros que aparecem a cada dia.
O violeiro Paulo Freire sempre diz pra quem quiser escutar: "O sertão mora dentro de cada um de nós".
Eu encontrei o meu.